A sensação de descobrir um mestre pouco conhecido é maravilhosa. E Gianni De Luca é exatamente isso: um gigante da arte que passa despercebido pelo grande público leitor. Numa lista rápida de quadrinistas italianos, feita de cabeça, ele provavelmente não seria lembrado. Uma pena, pois seu estilo abre possibilidades enormes para a mídia – tanto, que tem seguidores até hoje.
Na série policial Commissario Spada, ele ainda segue uma forma, digamos, mais ortodoxa de composição. Divide a página em quadros, embora em alguns momentos já desenhe os personagens repetidas vezes para emular o movimento deles pelo cenário.
Mas é na adaptação de três obras de Shakespeare – Romeu e Julieta, Hamlet e A Tempestade – que De Luca alcança algo realmente único. A partir dessa trilogia, a característica mais óbvia de seu trabalho passa a ser a página dupla como unidade narrativa básica. Os quadros são abolidos: a ação se torna livre, sem barreiras.
A decupagem (divisão do roteiro em sequências e planos) se faz “em tempo real”, enquanto os personagens andam pra lá e pra cá. De um plano geral se passa a um close, depois se vai para um plano americano etc. Se fosse cinema, seriam longos planos-sequência. Mas a melhor comparação está no teatro: a página atua como palco. A cada cena, o cenário muda, sendo elemento-chave para a interação com os atores de papel.
Com isso tudo, o tempo das cenas não flui como num quadrinho comum. Em vários momentos, personagens em lados opostos do cenário, fazendo coisas simultaneamente, se encontram em algum ponto da página. De Luca subverte a estrutura básica de uma HQ: sem quadros para controlar a sequência de ações, cria-se um fluxo temporal maleável.
Mas, alguém pode se perguntar, de que adiantou aperfeiçoar um jeito único de contar histórias se ninguém mais o utilizou? Ledo engano… Tem o dedo de De Luca em obras de outros grandes artistas, como:
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